Vidas secas
A arquitetura “fragmentária” de Vidas Secas obedece a uma exigência interna de seu criador. Através de episódios justapostos, o leitor tem uma visão desconexa da realidade apresentada pelo romancista, idêntica à percepção que as personagens têm do mundo que as cerca.
Vidas Secas é um romance cíclico: inicia-se com a seca — cap. 1 “Mudança” — e encerra-se com os prenúncios da nova seca que se aproxima — cap. 13 “Fuga”. Cada capítulo concentra-se mais particularmente numa das personagens: Fabiano, Sinha Vitória, os dois meninos e Baleia. O foco narrativo, em cada capítulo, parte de Fabiano, passa por Sinha Vitória, detém-se nos dois meninos, para terminar em Baleia.
Esses círculos têm como centro as personagens, pois o autor apresenta-nos o mundo através de uma realidade interior e não do decurso de ações ou acontecimentos. É possível afirmar que a obra é constituída quase toda sob a forma de “diálogo indireto” (discurso indireto livre). Em todos os capítulos — e em cada um deles — o ângulo de visão é o da personagem em foco. Na verdade, o romance é um contínuo deslocar do eixo narrativo, segundo a perspectiva de cada membro da família.
Nivelados pela condição subumana de existência e pelo primarismo de sentimentos, ações e pensamentos, homens, mulheres, crianças e animal são colocados no mesmo plano e tratados em igualdade de condições pelo romancista.
Em Vidas Secas, apesar de quase não haver descrição de paisagem ela é fundamental, pois a obra