Vida Simples
Origem e destino
Desvios e retornos também fazem parte do caminho
Publicado em 15/02/0108
Caco de Paula*
Edição 0058
Você vai deixar de conhecer um novo caminho só para não se atrasar pro almoço?
Ilustração: Thaís Beltrame
Você vai deixar de conhecer um novo caminho só para não se atrasar pro almoço? A proposta transgressiva foi feita enquanto caminhávamos pela subida íngreme de uma estradinha na serra da Mantiqueira, empurrando as bicicletas. Éramos esperados para o almoço alguns quilômetros adiante. Meu filho caçula, Raul, então com 10 anos, propunha um breve desvio no caminho. Queria explorar uma possibilidade na paisagem. De onde estávamos, víamos uma estradinha secundária que serpenteava morro abaixo até chegar a uma casa cercada por canteiros. Sabíamos que descer de bicicleta aquela ladeira toda poderia ser muito divertido. Sabíamos também que na volta teríamos de fazer uma longa e pesada caminhada morro acima. Eu já estava com fome e cansado. Mas, quer saber? Melhor foi descer aquela ladeira de bicicleta.
Fomos bem recebidos pelos moradores. Comemos morangos. Rimos à beça. Na volta estávamos mais alegres do que cansados. Valeu a pena. Poderia não ter valido? Talvez. Só sei que valeu.
Lembro-me disso sempre que escolho um novo caminho a seguir e procuro percorrê-lo mais com a alegria de uma criança de 10 anos que com a desconfiança dos quarentões. Você me dirá que um adulto já não pode agir com a ingenuidade de uma criança. Que já perdeu o entusiasmo movido por essa ingenuidade. E eu direi que, se isso for verdade, cabe ao adulto cultivar o entusiasmo e temperá-lo com, digamos, a sabedoria que os anos lhe deram, se é que deram. E, ainda que o adulto já não tenha todo o brilho genuíno da curiosidade da criança, que possa ver nela menos o símbolo de uma pequena pessoa inconseqüente e mais o que ela é em essência: um ser livre para praticar generosidade consigo mesmo.
Alguém já disse, ou deveria ter dito, que o adulto tende a ser