O CAED
REVISTA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA V. 18, Nº 36: 15-23 JUN. 2010
FEMINISMO, HISTÓRIA E PODER
Céli Regina Jardim Pinto
RESUMO
Este artigo está dividido em duas partes, cada uma com objetivos distintos e específicos: na primeira parte, farei uma reconstrução, em termos muito gerais, da história do feminismo, colocando o movimento dentro do processo maior da modernidade; meu objetivo, ao fazê-lo, é exatamente compor o cenário que permite entender o movimento como parte do campo de forças que formatou as últimas décadas do século XX e os primeiros anos do século XXI. Na segunda parte, trabalharei com uma questão teórica acerca da relação entre a mulher e o poder, com o objetivo de discutir o problema tanto tomando as suas especificidades como a forma como ele interage na complexidade da luta pelo poder e, mormente, da luta política. Concluo com a afirmação de que urge construir um programa de inclusão das mulheres na vida política, que não pode ser entendido como mera confecção de cartilhas ou campanhas publicitárias, mas, sim, como um programa para dar voz às mulheres, para construir espaços para que as mulheres falem.
PALAVRAS-CHAVE: movimento feminista; história do feminismo; poder; mulheres e política.
I. INTRODUÇÃO
O movimento feminista tem uma característica muito particular que deve ser tomada em consideração pelos interessados em entender sua história e seus processos: é um movimento que produz sua própria reflexão crítica, sua própria teoria. Esta coincidência entre militância e teoria é rara e deriva-se, entre outras razões, do tipo social de militante que impulsionou, pelo menos em um primeiro momento, o feminismo da segunda metade do século XX: mulheres de classe média, educadas, principalmente, nas áreas das Humanidades, da Crítica Literária e da Psicanálise. Pode se conhecer o movimento feminista a partir de duas vertentes: da história do feminismo, ou seja, da ação do movimento feminista, e da produção
teórica