Vermelho, verde e amarelo - tudo era uma vez
Tudo era uma vez
AdéliA BezeRRA de Meneses
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de fada têm um valor extraordinário no desenvolvimento infantil, sendo, via de regra, o primeiro contato da criança com o mundo ficcional formalizado numa narrativa. ouvir um conto de fada constitui o momento inaugural de um processo de “organização da experiência” (Candido, 1995), que a literatura propicia. É muito mais do que os pedagogos chamam de “desenvolver a imaginação”: sabemos, sobretudo na esteira de Bruno
Bettelheim (1980), o quanto os contos de fada tratam de questões fundamentais com que se defronta a criança no seu desenvolvimento. efetivamente, essas narrativas atuam, podendo pontuar – ou restaurar – um significado para situações da vida de cada um, algumas absolutamente desconcertantes, sobretudo nos momentos de inflexão no curso da existência.
Às vezes surpreendemo-nos um tanto chocados com o grau de crueldade embutido em algumas histórias de fada, e queremos “poupar” os nossos filhos de um confronto com esse sofrimento, com a maldade de algumas personagens que habitam o mundo do maravilhoso. Mas isso seria impedir que a criança se defronte com situações simbólicas – repito: simbólicas – que ela no mundo real vivencia, em que o Bem e o Mal se travejam, e com as quais os contos de fada a ajudam a lidar. a criança por meio dos contos de fada vê, verbalizadas – pois é no nível da palavra que as coisas se passam –, situações de sofrimento, de medo, de perigo, situações que exigem dela um esforço de superação. a personagem com que ela se identifica atravessa obstáculos e passa a um outro patamar de existência. Com efeito, os contos de fada – uma espécie de repositório da sabedoria popular transmitido de pais a filhos, ou melhor, de mães a filhos, pela voz – foram se constituindo num patrimônio precioso de cultura, veiculando experiência humana. tratam de questões fundamentais da criança no seu processo de desenvolvimento – que não se faz sem crises.
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