Vanessa
Fernando Savater
O que estou pretendendo lhe dizer ao colocar um “faça o que quiser” como tema fundamental da ética em cuja direção caminhamos tateando? Pois simplesmente (embora eu tema que depois acabe não sendo tão simples) que é preciso dispensar ordens e costumes, prêmios e castigos, em suma, tudo o que queira dirigi-lo de fora, e que você deve estabelecer todo esse assunto a partir de si mesmo, do foro íntimo de sua vontade. Não pergunte a ninguém o que você deve fazer de sua vida: pergunte-o a si mesmo. Se você deseja saber em que pode empregar melhor a sua liberdade, não a perca colocando-se já de início a serviço de outro ou de outros, por mais que sejam bons, sábios e respeitáveis: sobre o uso da liberdade, interrogue...a própria liberdade. Claro, como você é um garoto esperto, pode ser que já esteja percebendo que aqui há uma certa contradição. Ao lhe dizer “faça o que quiseres” parece que, de todo modo, estou lhe dando uma ordem, “faça isso e não faça aquilo”, embora a ordem seja agir livremente. Que ordem mais complicada, quando a examinamos de perto! Ao cumpri-la, você estará desobedecendo a ela (pois não estará fazendo o que quer, mas o que eu quero e estou mandando); ao desobedecer a ela, você a estará cumprindo (pois estará fazendo o que quer e não o que estou mandando...mas é exatamente isso que estou mandando). Acredite, não estou querendo colocá-lo diante de uma charada como as que aparecem na seção de passatempos dos jornais. Embora esteja tentando lhe dizer tudo isso sorrindo, para não nos aborrecermos mais do que o necessário, o assunto é sério: não se trata de passar o tempo, mas de vivê-lo bem. A aparente contradição que encerra esse “faça o que quiser” é apenas um reflexo do problema essencial da própria liberdade, ou seja, não somos livres para não sermos livres, pois é inevitável que sejamos livres. E se você me disser que chega, que você está farto e não quer continuar sendo livre? E se você