Uma sopa pra nós, uma sopa
O Tio Phill sempre me leva pra acampar, desde que eu era pequeno. Uma coisa que eu nunca entendi foi o porquê de ele sempre levar tantas panelas de pressão, sendo que nós não cozinhamos. Mas um dia eu descobri o motivo. Sexta-feira passada nós estávamos acampando na Avenida Washington Luís, com uns amigos mendigos que o Tio Phill conheceu na faculdade. Achei eles super gente boa. O estranho era que eles também tinham panelas de pressão em suas barracas, e comecei a me perguntar: Será que o Tio Phill esconde alguma coisa de mim? Depois que nós jantamos, o Tio Phill contou uma historinha bem legal chamada O Roubo Da Hornet. Ela contava o drama de dois assaltantes que usavam Absurda e que saíam pelos viadutos do Rio De Janeiro roubando Hornets de trabalhadores humildes com filmadoras no capacete. Devo dizer que quase chorei quando ouvi o final da história, mas mesmo assim eu peguei no sono. Então eu acordei, eram umas três da madrugada, e senti um cheiro estranho na rua. Quando olhei pra lateral da barraca, vi a sombra do Tio Phill com a panela de pressão na boca. Aí eu fui transportado pra uma dimensão alternativa, onde eu estava dentro de um barraco de luxo com uma filmadora e um capacete. Então eu ouço uma voz: - Passa a Hornet, passa, passa, perdeu, perdeu! Tira o alarme que nois é trabalhador! Todavia saí correndo do quarto, e entrei em uma sala de estar branca com um sofá vermelho meio de pobre. Tinha uma entrada que, eu imaginava, dava para a cozinha, que estava escura. Barulhos de isqueiros ressoavam no meu ouvido, e quando eu entrei na cozinha e ascendi a luz, eu vi a cena. Lá estava ele, o Tio Phill, com sua pança peluda de fora, segurando a panela com uma mão, ascendendo um isqueiro na outra e com a boca no cabo. Quando o vi, ele disse: - Uma sopa pá nois, uma sopa. Vou fazer uma sopa pá nois, uma sopa –e começou a fazer uma sopa naquela panela.