Uma nova visão do sofrimento humano nas organizações
Introdução
Sabemos há muito tempo que o desenvolvimento da atividade produtiva origina-se de uma lógica na qual os jogos da concorrência econômica ocupam um lugar central. A busca de melhores desempenhos produtivos gera na própria empresa problemas sociais e humanos que têm, por sua vez, conseqüências às vezes menos vantajosas sobre a vida comum e a saúde dos homens e mulheres que ela emprega.
Convém ainda sublimar desde logo que as relações entre sofrimento e organização não caminham sempre nesse sentido e que o trabalho pode também ser fonte de prazer, e mesmo mediador de saúde.
Não se trata aqui de proceder a uma revisão dos trabalhos publicados, mas de concentrar a discussão sobre a questão, deliberadamente limitada mas essencial, do sofrimento no trabalho.
Psicopatologia do Trabalho e Modelo do Homem Concreto
As primeiras pesquisas em Psicopatologia do Trabalho nos anos cinqüenta foram dedicadas ao estudo das perturbações psíquicas ocasionadas pelo trabalho. Utilizando a metodologia baseada em entrevistas individuais, e referida ao modelo teórico da psicofisiologia pavloviana, uma equipe de clínicos chegou a determinar e a descrever síndromes estreitamente associadas à situação de trabalho: eles descreveram também a "neurose das telefonistas".
A principal dificuldade encontrada pela Psicopatologia do Trabalho vinha de sua dependência excessiva dos modelos médicos clássicos: como em patologia profissional e em medicina do trabalho.
O novo desenvolvimento da Psicopatologia do Trabalho foi possível a partir do momento em que, assumindo a normalidade dos trabalhadores em situação de trabalho, chegamos ao ponto de realizar uma reviravolta epistemológica. Agora, a normalidade é considerada um enigma. Como os trabalhadores, em sua maioria, conseguem, apesar dos constrangimentos da situação do trabalho, preservar um equilíbrio psíquico e manter-se na normalidade.
O equilíbrio seria o