Uma lágrima de mulher
Universidade da Amazônia
Uma Lágrima de
Mulher
de Aluísio Azevedo
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Uma Lágrima de Mulher de Aluísio Azevedo
PRIMEIRA PARTE
CAPÍTULO I
Numa das formosas ilhas de Lipari, branquejava solitária uma casinha térrea, meio encravada nos rochedos, que as águas do mar da Sicília batem constantemente. Ao lado esquerdo da modesta habitação, corria uma farta alameda de oliveiras, que, juntamente com os resultados da pesca do coral, constituía os meios escassos de vida de Maffei e sua família.
O pescador enviuvara cedo.
Do amor ardente e rude com que o embalara por dez anos uma formosa procitana por quem se apaixonara, restava-lhe, com recordação viva da extinta mocidade, como um beijo animado da felicidade que passou, uma alegria de quinze anos, uma filha querida, meiga e delicada como o afago de uma criancinha.
Ela adorava-o. Enchia-o de beijos e ternuras; era como um rouxinol a acariciar um tigre. Nas tardes melancólicas do outono, quando se assentavam ao sol no terreiro, contrastava com a bruteza do peito largo do pescador a engraçada cabeça de Rosalina, que se debruçava sobre ele.
Completava a pequena família de Lipari uma boa e religiosa velha dos seus cinqüenta anos, ama, criada e amiga; Ângela era, ao mesmo tempo, a mãe adotiva da filha de Maffei.
Rosalina era encantadora. Como em quase todas as meninas italianas, adivinhavam-se-lhe os elementos de uma mulher bela. Difícil seria vê-la alguém, sem prender o coração naquela graciosa liberdade de movimentos; ouvi-la, sem guardar na memória, como uma relíquia sagrada, o seu falsete de criança.
Há quinze anos, adormecia e levantava-se antes da alva, sempre rindo e cantando; nunca uma tristeza real lhe havia nublado a transparência azul de sua alegria, parado