Lágrima de Preta
Nascimento: 1906 Lisboa
Morte: 1997
Poeta, professor e historiador da ciência portuguesa.
António Gedeão, pseudónimo de Rómulo de Carvalho, concluiu, no Porto, o curso de Ciências Físico-Químicas, exercendo depois a atividade de professor.
Poema
Lágrima de preta
Encontrei uma preta que estava a chorar, pedi-lhe uma lágrima para a analisar.
Recolhi a lágrima com todo o cuidado num tubo de ensaio bem esterilizado.
Olhei-a de um lado, do outro e de frente: tinha um ar de gota muito transparente.
Mandei vir os ácidos, as bases e os sais, as drogas usadas em casos que tais.
Ensaiei a frio, experimentei ao lume, de todas as vezes deu-me o que é costume:
nem sinais de negro, nem vestígios de ódio.
Água (quase tudo) e cloreto de sódio.
ANÁLISE IDEOLÓGICA
Tema: Condenação do racismo
Assunto: O sujeito poético analisa uma lágrima de uma preta, testa de maneira científica e chega à conclusão que essa lágrima é igual a todas as outras.
Podemos dizer que a primeira estrofe é a INTRODUÇÃO, as quatro do meio são o DESENVOLVIMENTO e a última é a CONCLUSÃO.
Este poema é como que um relatório científico, elaborado através de uma experiência feita com uma lágrima de uma mulher preta.
A figura principal é uma mulher preta que o sujeito poético encontrou a chorar nalgum lado. Ao observar esta cena, pede-lhe uma lágrima para a analisar de uma forma científica, daí a presença, no texto, de diversos termos científicos.
Exs: “(…)num tubo de ensaio bem esterilizado(…)” (v.v. 7-8) “Mandei vir os ácidos, as bases e os sais, (…)” (v.v. 13-14)
O sujeito poético vai fazer uma análise química à lágrima, seguindo um certo método:
1- Começa por recolher a lágrima e coloca-a num tubo de ensaio esterilizado para que esta não ficasse contaminada.
2-Seguidamente a lágrima é observada cuidadosamente como uma gota transparente. Depois começa a análise experimental, recorrendo a vários reagentes e a processos