UMA FESTA CATÓLICA PARA OS HOMENS PRETOS

IRMANDADE NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO:
UMA FESTA CATÓLICA PARA OS HOMENS PRETOS
INTRODUÇÃO
A finalidade deste trabalho é traçar um panorama da relação de sincretismo presentes nas Irmandades de Nossa Senhora dos Homens Pretos e o Catolicismo, no Brasil, em um período histórico onde homens eram donos de homens.
As Irmandades surgiram como associações, formadas por leigos católicos, fieis que dedicavam cultos a um santo padroeiro. Possuíam objetivos de ajuda mútua, praticavam obras de caridade e ofereciam benefícios materiais e espirituais, sendo o seu maior compromisso oferecer aos seus sócios um funeral digno.
Essas Irmandades tinham um caráter étnico, valorizando as categorias sociais e raciais. Existiam as Irmandades dos brancos de elite, e aquelas só de escravos, como a Irmandade Nossa Senhora do Rosário. Os escravos e os forros, associados à Irmandade, adquiriam status social, buscando nela proteção contra os rigores da escravidão e, muitas vezes, juntavam dinheiro para pagar a liberdade de seus irmãos.
Em busca da cristianização dos negros, a Igreja os atraiu para as Irmandades. Inicialmente, permitia sua participação nas Irmandades brancas, mas aos poucos e com o apoio dos padres dominicanos, os negros formaram núcleos separados, fundando, assim, suas próprias confrarias, que deram origem ao Congado.
Perguntamo-nos em que momento surgiu o culto afro-brasileiro à Nossa Senhora do Rosário no Brasil. Sabemos que o processo de catequese na África, através dos dominicanos, impôs seu culto àqueles negros, mas o Congado veio a ser criado no Brasil Colonial, tendo de um lado a religião do branco e do outro a recriação do negro.
A festa do Rosário, através do Congado, viria marcar a vida das comunidades negras. Esse movimento, de consagração à Grande Mãe, que perdura no Brasil até os dias atuais, é uma obra sincrética, uma mistura de elementos de sociedades distintas.
Precisamos, neste sentido, buscar um entendimento cultural da história dos escravos no