Uma face contemporânea da barbárie
Esta concisa comunicação, retomando e resumindo reflexões que venho desenvolvendo há alguns anos, tem como hipótese central a ideia de que o tardo-capitalismo (o capitalismo contemporâneo, resultado das transformações societárias ocorrentes desde os anos 1970 e posto no quadro da sua crise estrutural) esgotou as possibilidades civilizatórias que Marx identificou no capitalismo do século XIX e, ainda, que este exaurimento deve-se a que o estágio atual da produção capitalista é necessariamente destrutivo (conforme o caracteriza István Mészáros). O esgotamento em tela, que incide sobre a totalidade da vida social, manifesta-se visivelmente na barbarização que se generaliza nas formações econômico-sociais tardo-capitalistas.
Entendo que uma face contemporânea da barbárie se expressa exatamente no trato que, nas políticas sociais, vem sendo conferido à "questão social" – por isto, inicio a exposição referenciando-a explicitamente. Em seguida, sumario as transformações societárias que estão na base da constituição do tardo-capitalismo e, na sequência, procuro indicar, no marco da restauração capitalista que se verificou nos últimos trinta anos, os traços do que considero os constitutivos dessa face contemporânea do barbarismo. Depois, faço brevíssimos comentários acerca dos dois mandatos presidenciais de Lula da Silva – num andamento tão sintético quanto polêmico e de minha inteira responsabilidade pessoal. Enfim, sinalizo que a antiga escolha entre socialismo ou barbárie é hoje dramaticamente atual.
Dada a natureza própria de uma comunicação deste gênero, em muitos passos fui obrigado a simplificações – que espero não comprometam substantivamente a argumentação. E me desculpo, de antemão, pela longa listagem bibliográfica, explicável apenas por dois motivos: 1º) continuo acreditando que uma das poucas observações acertadas que Galbraith fez ao longo da vida diz respeito às notas apostas a um texto; ele nunca as julgou excessivas, na medida em que são "um