Capitalismo e bábarie
Capitalismo e barbárie contemporâneai
Contemporary capitalism and barbarismo
José Paulo NETTO
E
sta intervenção, retomando e resumindo reflexões que venho desenvolvendo há alguns anos, tem como hipótese central a ideia de que o tardo-capitalismo (o capitalismo contemporâneo, resultado das transformações societárias ocorrentes desde os anos
1970 e posto no quadro da sua crise estrutural) esgotou as possibilidades civilizatórias que Marx identificou no capitalismo do século XIX e, ainda, que tal exaurimento deve-se a que o estágio atual da produção capitalista é necessariamente destrutivo (conforme o caracteriza István Mészáros). Este esgotamento, que incide sobre a totalidade da vida social, manifesta-se visivelmente na barbarização que se generaliza nas formações econômico-sociais tardo-capitalistas.
Entendo que uma face contemporânea da barbárie se expressa exatamente no trato que, nas políticas sociais, vem sendo conferido à “questão social” – por isto, iniciarei a minha exposição referenciando-a explicitamente. Em seguida, esboçarei umsumáriodas transformações societárias que estão na base da constituição do tardo-capitalismo e, na sequência, procurarei indicar, no marco da restauração capitalista que se verificou nos últimos trinta anos, os traços do que considero os constitutivos dessa face
1Professor
contemporânea do barbarismo. Enfim, sinalizarei que a antiga escolha entre socialismo ou barbárie é hoje dramaticamente atual.
Dada a natureza própria de uma comunicação deste gênero, em muitos passos serei obrigado a simplificações – que espero não comprometam substantivamente a minha argumentação.
E os mais informados certamente observarão que estou longe de qualquer originalidade: minha reflexão remete a um largo esforço teórico-analítico coletivo que vem sendo desenvolvido por pensadores os mais diversos nos últimos 30 anos. Meu trabalho se apóia sobre uma elaboração coletiva; mas, evidentemente, sou o único