Um outro Apólogo

Maira Silva de Lima

Um Outro Apólogo

Um relógio me contou que testemunhou outro dia uma discussão entre a TV e o computador. Segundo esse relógio, as partes envolvidas digladiavam-se verbalmente a fim de chegar a certa conclusão: qual deles conseguia prender mais a atenção e ser mais reverenciado pelo bicho-homem.
- Ai, ai; como sou amado e requisitado nesta casa. As pessoas estão sempre me tocando
– disse o computador para a TV, com o propósito claro de provocá-la, emanando certo ar de superioridade.
- Sério?! Será mesmo, “amado”? Ou não serias um mero capacho que executa os comandos realizados pelo usuário?! – retrucou, com não menos malícia, a TV, que, por sinal, a respeito de experiência estava bem à frente do computador, este que primava pela insolência.
- Lógico, minha senhora. Não vês o tempo que passam em minha frente, com os olhares atentos? Ainda mais que eu sou chique: tenho internet, portanto posso oferecer infinitas possibilidades a quem me procura, agradando a todos.
- É, pode até ser. No entanto, na hora da novela, do jogo de futebol não é para você que eles correm... Além disso, eu não dou trabalho algum. Basta um controle remoto e pronto. Não têm que ficar o tempo todo digitando inúmeros caracteres. Trago tudo já prontinho. Basta a eles sentarem-se e relaxarem; o resto é por minha conta. Você se gaba por ter internet: grande coisa! Eu sou equipada com TV por assinatura, e com a ajuda do meu amigo receptor ofereço um mundo de diversão e entretenimento aos meus espectadores. Você os cansa, eu os relaxo.
- Eu sou mais dinâmico que você – redargüiu o computador, já se sentindo meio inferiorizado pelos argumentos lançados pela velhaca TV. E tem mais: eu posso armazenar qualquer dado em minha memória, desde textos, fotos até filmes. Já você, é desmemoriada, pois não grava nada, apenas projeta algo que foi realizado ninguém sabe onde. - Pois você é um desinformado. Não eu, por já ser um pouco velha, mas minhas
descendentes