Um corpo que dói
ARTIGOS
Latin-American Journal of Fundamental Psychopathology on Line, VI, 1, 21-42
Um corpo que dói: considerações sobre a clínica psicanalítica dos fenômenos psicossomáticos
Leônia Cavalcante Teixeira
A clínica dos fenômenos psicossomáticos, no contexto das (re)orientações do poder terapêutico na atualidade, questiona a hegemonia do olhar biomédico característica dos recortes que incidem sobre o corpo. Abordaremos, neste ensaio, aspectos do mal-estar na atualidade a partir da psicopatologia somática e suas interrogações aos saberes e práticas da clínica do psicológico na perspectiva da psicanálise. Para tanto, iniciamos com uma breve reflexão acerca do corpo na perspectiva da psicanálise e da importância das relações primordiais para a constituição do equilíbrio psicossomático. Ressaltamos, nesse sentido, autores que trouxeram contribuições ao campo das psicopatologias somáticas. Em um segundo momento, é abordado o sofrimento psíquico em pessoas com neoplasia, considerando que o processo de adoecimento é historicamente construído, isto é, os modos de padecimento encontram-se circunscritos a saberes e práticas sócio-culturais, a modalidades de experiência do corpo, da dor, do prazer e até mesmo da cura. As implicações do malestar na atualidade trazem à tona as resistências dos saberes e práticas psicológicas a atribuir fundamental importância ao corpo na construção das subjetividades, especialmente quando são pelas corporeidades sofrentes nos campos dos fenômenos psicossomáticos, dos estados-limite, das depressões e da hipocondria que os sujeitos se apresentam à cena analítica. O repensar dos lugares do corpo no nosso momento civilizatório é importante para que as atuais versões do sofrer que acolhemos em análise possam ser contextualizadas na cena social. Ressaltamos que abordamos o câncer a partir da interface da medicina e psicanálise, privilegiando as psicopatologias orgânicas como referencial teórico-clínico.