Os Dois Corpos do Rei – Um estudo sobre teologia medieval
Aluno: Paulo Ricardo dos Santos Micchi
Nr USP: 1577103
Texto: Kantorowicz, Ernest H. Os Dois Corpos do Rei – Um estudo sobre teologia medieval. Rio de Janeiro: Cia das Letras, 2000.
O objetivo principal do autor é recuperar nas tradições medieval e moderna o corpo místico que envolve a figura do rei nas cortes da Europa, principalmente a inglesa. O título “Os Dois Corpos do Rei” refere-se à característica dupla da imagem do rei, dividida entre a sua existência pública e a pessoal, e perpetuada através dos embates jurídicos, filosóficos e religiosos.
Os dois corpos
No Capítulo I, o primeiro dos corpos do rei aparece enquanto seu corpo natural, sustentado nas efemeridades humanas, calcado nos defeitos, infantilidades e apelos naturais ao homem. O segundo dos corpos (o corpo político) se impõe ao primeiro no sentido em que é ele possuidor do poder da verdade, da decisão, da legitimidade, o que o torna necessariamente superior às instâncias naturais que, de certa forma, fazem dos homens de natureza igual.
Esse corpo político torna-se eterno através de uma mistificação e o ritual de morte do corpo natural não seria o mesmo em relação ao corpo político, arraigado na migração da alma, na transferência, para outro homem, da esfera do corpo político (hereditariamente, nesse caso)
Disputas jurídicas no período elisabetano
A predominância do corpo político sobre o natural pode ser observada na forma de defesa das cortes pelos juízes durante o período elisabetano. Os julgamentos citados diziam respeito às questões de terra principalmente, dando margem às interpretações variadas que davam conta de discernir entre o comportamento do rei em seu corpo natural e seu corpo político. Na ocasião em que o rei, em sua qualidade natural tendo ainda a menoridade, ordenasse a incorporação de determinada extensão de terra, sua pouca idade não impediria, porém, o exercício legítimo