Ulisses
As questões relacionadas ao cotidiano, ao modo de cada pessoa lidar com sua rotina diária, têm sido motor e combustível para discussões tanto acadêmicas como artísticas. Percebi isso melhor depois de participar do momento "Movimentos Lingüísticos", em agosto último, em Fortaleza (CE), como parte do projeto-proposta "Movimentos Improváveis", coordenado por Julio Lira que, logo mais abaixo, relata sua experiência afetiva na realização dessa iniciativa.
Percebi também, partindo de Michel De Certeau (1994), que "o ato de passear está para o sistema urbano como a enunciação está para a língua ou para enunciados preferidos". Logo, compreender o passeio enquanto espaço de enunciação pode ser uma boa estratégia de sobrevivência no contexto caótico da rotina e do excedente de expectativas que atualmente vivemos nos grandes centros.
De inicio, o deslocamento para a Praia de Iracema. Seguindo o pensamento de De Certeau, e segundo minha lógica de observador-participante (ou melhor, voyeur andarilho), o caminhar torna-se revelador de mapas urbanos, justamente pelos traços densos e leves deixados no espaço como também nas trajetórias do estar de lá pra cá e de cá pra lá. Na espera e quase desencontro (pois tive dificuldade de encontrar o local marcado), enfim encontrei a dita "Praça dos estressados", estranhamente, do lado de uma churrascaria bem na orla turística fortalezense.
Uma solidão que me fez atentar para as pessoas caminhando freneticamente, enunciações que moldavam espaços, ocupando estes com um jeito fitness de ser e estar, de uma desatenção ou negligência para o que está no seu entorno, no isolamento de ipodes, mp3's e mp4's, longe de propósitos mais complexos, quer sejam políticos ou comunitários. Aos poucos, os outros dois convidados foram chegando, junto Julio e Ayla (produtora dos encontros). Já mobilizados, de algum modo, no passeio que se iniciou já