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Faustino Teixeira
PPCIR-UFJF
Introdução A questão da teologia da libertação (TdL) volta hoje à tona num momento particular da conjuntura eclesiástica, marcado pelo início do pontificado de Bento XVI, nome que o cardeal Joseph Ratzinger escolheu para dar continuidade ao caminho trilhado por João Paulo II. Foi durante o período em que Ratzinger atuou como prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé (ex-Santo Ofício) que a teologia da libertação viveu inúmeras dificuldades. As resistências mais ativas ocorrerão nos anos 80. É nesta década que será publicada a primeira instrução da Congregação para a Doutrina da Fé (CDF) sobre a teologia da libertação (1984) e que alguns dos mais eminentes teólogos da libertação, como Leonardo Boff e Gustavo Gutiérrez sofrerão punições mais severas ou advertências a respeito de seu trabalho teológico. As críticas mais contundentes à reflexão teológica latino-americana, como serão expressas pelo mencionado documento da CDF, referem-se sobretudo ao que se denominou acento imanentista e unilateral sobre a ação libertadora e a utilização pouco crítica do instrumental de análise recolhido das diversas correntes do pensamento marxista.1 Mas preocupava igualmente a CDF as interpretações teológicas e a nova hermenêutica que acompanhavam a teologia da libertação: a unidade da história, a compreensão do Reino de Deus, a politização da fé, a ênfase na noção de igreja do povo (em tensão com a igreja hierárquica), a releitura política das Escrituras, além de outras questões. A avaliação da teologia da libertação em âmbito mundial não foi, felizmente, dominada pela visão sombria da CDF. Foi a teologia da libertação que favoreceu a percepção, a nível mais amplo, de um novo jeito de ser igreja, marcado pela participação ativa dos pobres e dos leigos; que mostrou de forma viva a íntima vinculação entre libertação e salvação e que colocou no centro da história o projeto de afirmação do reino de