Trote
Luis Carlos Giarola
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A violência no escárnio do trote tradicional (um estudo filosófico em antropologia cultural). Santa Maria-RS: Universidade Federal de Santa Maria, 1993. 45p.
O trote rotineiro, admitido pelos estudantes, em geral traduz uma concepção de brincadeira e zombaria, na qual se garante fundamentalmente que o veterano se divirta. Na minha experiência, de calouro a veterano, o trote foi uma ocorrência muito marcante. Como bixo, passei por muitas situações de apuro, curti bastante adrenalina, auto-afirmei-me com meus colegas e escapei de todas as modalidades que na época eram temidas. Fui o que se costuma denominar um "bixo esperto". Alguns não passaram tão ilesos assim... Já veterano, queria dar trote, divertir-me com a cara dos bixos, mas ... meu desempenho deixou a desejar: não conseguia assustar, subjugar, ou zombar de um bixo com a criatividade e a desenvoltura de outros veteranos (aos quais, nessa época, eu no fundo até admirava). Os trotes-aberrações (aquelas modalidades que ninguém assume a autoria ou sua defesa perante autoridades, mas que, pelo contrário, condena-as e as atribui a pessoas descontroladas e/ou a veteranos de outros cursos) constituem outra esfera de problema, porque aqui se entrecruzam reminiscências de outras injustiças da sociedade, despertam indignações e clamores por punições, não havendo sustentação assumida para sua ocorrência. Há relatos de atrocidades no trote desde a Idade Média e suas origens remetem a vários aspectos da relação entre as pessoas, estando bem analisado na monografia de Paulo Denisar Vasconcelos 2. Nesse livro, citamse dois casos de óbitos de universitários brasileiros em situações de trote:
1 Médico, professor do Departamento de Saúde Pública da Faculdade de Medicina de Botucatu - Unesp. Presidente da Comissão de Assuntos Estudantis/FMB.
agosto, 1999
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DEBATES
Carlos Alberto de Sousa (20 anos -Jornalismo/Universidade de Mogi das Cruzes-SP - 1980),