Trecho Mrs Dalloway
Pois, morando em Westminster – quantos anos agora? mais de vinte –, a pessoa sente mesmo em pleno trânsito, ou acordando à noite, Clarissa tinha a maior convicção, uma solenidade ou silêncio especial; uma pausa indescritível; uma ansiedade (mas podia ser o coração dela, afetado, disseram, pela gripe) antes de soar o Big Ben. Pronto! Bateu. Primeiro um aviso, musical; então a hora, irrevogável. Os círculos de chumbo se dissolveram no ar. Como somos tolos, pensou atravessando a Victoria Street. Pois só os céus sabem por que a gente tem tanto amor por ela, cuida tanto dela, trata com jeito, constrói, desmonta, recria toda ela a cada instante em nossa volta; e as mulheres mais desmazeladas, mais abatidas pela desgraça, sentadas nos degraus das portas (sua ruína a bebida) fazem a mesma coisa; não[…]”
“Pois eram os meados de junho. A guerra tinha acabado, exceto para aqueles como Mrs. Foxcroft na embaixada na noite anterior consumindo-se porque aquele bom garoto foi morto e agora o velho solar terá de passar para um primo; ou Lady Bexborough que inaugurou um bazar beneficente, dizem, com o telegrama na mão, John, seu favorito, morto; mas tinha acabado; graças aos céus – tinha acabado. Era junho. O rei e a rainha estavam no palácio. E por toda parte, embora fosse ainda tão cedo, havia uma vibração, um bulício de cavalos a galope, de tacadas de críquete; Lord’s, Ascot, Ranelagh e todos os demais; envoltos na malha macia do ar matinal cinza-azulado, que, conforme o dia avançasse, iria se desprender e traria a seus gramados e campos de críquete os cavalos vigorosos,