Mrs. Dollaway

63027 palavras 253 páginas
Sumário
Uma introdução a Mrs. Dalloway
Mrs. Dalloway
Virginia Woolf

Uma introdução a Mrs. Dalloway
Virginia Woolf
É DIFÍCIL – TALVEZ IMPOSSÍVEL – a um escritor dizer qualquer coisa sobre sua obra. Tudo o que ele tem a dizer, já disse da maneira mais completa, da melhor maneira que lhe é possível, no corpo do próprio livro. Se não conseguiu deixar claro o que pretendia dizer, é pouco provável que consiga num prefácio ou num posfácio de algumas páginas. E a mente do autor tem outra característica que também é avessa a introduções. É inóspita para sua cria como uma pardoca com seus filhotes. Depois que as avezinhas aprendem a voar, têm de voar; quando saem do ninho, a mãe começa talvez a pensar em outra prole. Da mesma forma, depois de impresso e publicado, um livro deixa de ser propriedade do autor; este o confia ao cuidado dos outros; toda a sua atenção é demandada por algum novo livro, que não só expulsa o predecessor do ninho, como também costuma denegrir sutilmente o caráter do outro em comparação ao dele mesmo.
É verdade que o autor, se quiser, pode nos contar alguma coisa de si e de sua vida que não está no romance; e é algo que devemos incentivar. Pois não existe nada mais fascinante do que se enxergar a verdade por trás daquelas imensas fachadas de ficção – isso se a vida for de fato verdadeira e se a ficção for de fato fictícia. E provavelmente a ligação entre ambas é de extrema complexidade. Livros são flores ou frutas pendentes aqui e ali numa árvore com raízes profundas na terra de nossos primeiros anos, de nossas primeiras experiências. Mas, aqui também, para contar ao leitor alguma coisa que sua imaginação e percepção ainda não descobriu, seria necessário não um prefácio de uma ou duas páginas, e sim uma autobiografia em um ou dois volumes. Devagar, com cuidado, o autor se lançaria ao trabalho, desenterrando, desnudando, e, mesmo depois de trazer tudo à superfície, ainda caberia ao leitor decidir o que importaria e o
que

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