Trecho do livro "O que é Ideologia" -
295 palavras
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Da concepção hegeliana, Marx também conserva a afirmação de que a realidade é histórica e que por isso é reflexionante, ou seja, realiza a reflexão. Em outras palavras, a realidade é um movimento de contradições que produzem e reproduzem o modo de existência social dos homens, e que, realizando uma volta completa sobre si mesma, pode conduzir à transformação desse modo de existência social. Ora, aqui surge um problema. Em Hegel não havia a menor dificuldade para considerar o real como capaz de reflexão, pois o real era o Espírito, o Espírito era sujeito e todo sujeito é sujeito porque capaz de reflexão. Mas a dialética marxista não é espiritualista ou idealista, e sim materialista. Ora, a matéria, como provam as ciências naturais, é algo inerte, constituído por relações mecânicas de causa e efeito, de partes exteriores umas às outras, sendo inconcebível supor que haja interioridade naquilo que é material. E reflexão supõe uma interiorização, uma volta sobre si e para dentro de si. Como colocar reflexão na matéria? E que a matéria de que fala Marx não é a matéria física ou química, a coisa inerte que não possui atividade interna. A matéria de que fala
Marx é a matéria social, isto é, as relações sociais entendidas como relações de produção, ou seja, como o modo pelo qual os homens produzem e reproduzem suas condições materiais de existência e o modo como pensam e interpretam essas relações. A matéria do materialismo histórico-dialético é os homens produzindo, em condições determinadas, seu modo de se reproduzirem como homens e de organizarem suas vidas como homens. Assim sendo, a reflexão não é impossível. Basta que percebamos que o sujeito da história, seu agente, embora não seja o Espírito, é sujeito: são as classes sociais em