trabalho
No seu ensaio “O problema do conteúdo, do material e da forma na obra literária”, Mikhail Bakhtine chama a atenção para a unidade e oposição dialética entre forma e conteúdo, ao propor que “o conteúdo e a forma interpenetram-se e são inseparáveis”, nem que seja porque a expressão do conteúdo dá-se através da forma que, por sua vez, objetiva e determina seu conteúdo. [BAKTHINE: 1999, 47.]
Ao descrever novos referentes, com vocábulos prenhes de sons, vozes e determinações passadas, as ciências sociais velam e consolidam, nem que seja parcialmente, as contradições sociais que fundiram esses signos lingüísticos, ao invés de desvelá-las, como é seu papel precípuo.
Com a utilização de signos lingüísticos nascidos das tensões sociais que se quer criticar, presta-se tributo aos próprios conteúdos criticados. Na interação dialética entre conteúdo e forma, essência e aparência, significante e significado, novos conteúdos exigem novos ou mais precisos signos para sua explicitação essencial.
2. O Novo e o Velho: O “Índio” e o “Americano”
As práticas escravizadoras e colonialistas européias ensejaram visões classistas preconceituosas das sociedades americanas. Mesmo quando dominou a colaboração relativa, não foi neutro o olhar e, portanto, a produção lingüística européia sobre o Novo Mundo e suas comunidades.
Os colonizadores lusitanos, espanhóis, franceses, etc. estavam inseridos em tradição cultural classista, expansionista e mercantilista que fazia tabula rasa das culturas e civilizações com que entravam em contato. Essa visão do mundo determinou os signos lingüísticos criados ou determinados na exploração do Novo Mundo.
A palavra “índio” é exemplo paradigmático. Inicialmente, ela designou o habitante de territórios considerados erroneamente como as costas extremo‑orientais das Índias. Portanto, nasceu como substantivo pátrio gerado pelos enganos e ilusões geográficas de Cristóvão Colombo [1451-1506] e de seus companheiros de