trabalho
O especialista Patrick Manning, em seu trabalho The enslavement of Africans: a demographic model (1981), demonstrou que a maioria das pessoas escravizadas na África permanecia dentro do próprio continente. No circuito atlântico do tráfico, enquanto os "exportados" representaram 44,6% das amostras pesquisadas, a proporção dos que ficaram foi de 55,4%. Destes, o autor calculou que pereciam em torno de 10%, abatidos por doenças semelhantes às dos que morriam na travessia oceânica. É certo que em processos desta natureza indivíduos tidos como "cativos indesejáveis" poderiam ser mortos por seus captores, mas o argumento humanitário definitivamente não se sustenta8. Nem o mais delirante ficcionista imaginaria negreiros enchendo seus navios com cativos sem valor de revenda.
5- As potências ocidentais trabalharam incessantemente, contra os interesses das elites tradicionais das regiões que ocupavam, no sentido de eliminar a escravidão do continente africano.
Muitos exemplos podem ser invocados para desfazer esta fábula reabilitadora do colonialismo. Uma passagem de Paul Lovejoy é particularmente instrutiva:
As leis abolindo a escravidão nas colônias britânicas não eram aplicáveis ao Protetorado de Serra Leoa, onde a escravidão continuava a prosperar. O escravismo desenvolveu-se, dessa forma, até muito tarde. Os negócios com escravos não foram abolidos antes de 1896, e a própria escravidão foi considerada ilegal somente em 1926. Freetown, apesar do nome, era a capital de um dos últimos bastiões da escravidão9.
Nas colônias portuguesas da África, apesar da abolição oficial da escravidão na década de 1870, foram implantados o que Cabaço define como "regimes laboristas especiais que incluíam o trabalho forçado". O tráfico de escravos, embora proibido