Trabalho
VARIABILIDADE E ADAPTAÇÃO: AS BASES GENÉTICAS DA TEORIA DA EVOLUÇÃO
Fernando Portela Câmara, MD, PhD Prof. Associado, UFRJ
Universalidade da variação
Para se compreender a evolução é necessário conhecer os princípios da genética de populações. Isto porque a taxa de mudanças evolucionárias na população depende da taxa de diversidade genética (heterozigose), tal que uma baixa variabilidade restringe as opções evolucionárias de uma espécie, e o contrário favorece a adaptação positiva dos organismos ao meio.
Muitas pessoas não estão familiarizadas com a relação entre evolução e genética de populações, contudo, isto se deve à uma idéia super-dimensionada do que seja evolução. Com efeito, evolução não trata de um aperfeiçoamento, uma direção em relação ao melhor, isto é, não tem um sentido moral, social ou mesmo cosmológico (não devemos associar evolução à complexidade). Na verdade, trata-se apenas de um mecanismo natural de adaptação, que faz com que as espécies possam melhor se adaptarem a modificações do ambiente em função de sua variabilidade.
A Teoria da Evolução é hoje essencialmente o que Darwin estabeleceu ainda no século XIX. Ele postulou que as espécies teriam se originado de um ancestral comum diversificando-se através de mutações ao acaso, com as espécies melhores adaptadas sendo naturalmente selecionadas, prevalecendo por terem maior vigor reprodutivo e, conseqüentemente, passando esta vantagem às suas descendências. Embora Wallace tenha chegado a uma conclusão semelhante, coube a Darwin ser o pioneiro na Teoria da Evolução porque ele tornou esta empresa o seu projeto científico até o fim de sua vida, e criou o método hipotético-dedutivo (testar uma hipótese através de observações para confirmá-la posteriormente por dedução). Na época de Darwin prevalecia apenas o método indutivo-conclusivo.
Pouco depois, Mendel demonstrou que a herança era determinada por elementos discretos (genes),