Trabalho muscular
EDIÇÃO 138/SETEMBRO DE 201102/12/2011
Elas têm a força
Com autonomia social e inspiradas em novelas, as mulheres do Brasil promoveram uma revolução ao reduzir a taxa de natalidade e impulsionar a vibrante economia do país
por Cynthia GorneyFonte:
[pic]
Uma menina se diverte sozinha com sua bicicleta rosa no Parque do Ibirapuera, em São Paulo. Apenas a China, com sua política de filho único, mostra queda tão drástica na taxa de natalidade. A diferença? No Brasil, o declínio foi uma escolha das mulheres, e não uma medida do governo.
José Alberto, Murilo, Geraldo, Ângela, Paulo, Edwiges, Vicente, Rita, Lúcia, Marcelino, Teresinha. Dá 11, certo? Sem contar um natimorto, três abortos espontâneos e um bebê que não chegou a viver um dia inteiro. Dona Maria Ribeiro de Carvalho, de 88 anos, conclui com voz grave a contagem de suas 16 gestações e olha para José Alberto, o primogênito, que veio para uma visita domingueira e está no sofá fumando um cigarro. "Com esse número de filhos que eu tive", diz ela com uma pontinha de recriminação, "a esta altura eu já deveria ter mais de 100 netos."
José Alberto, que passou a manhã pescando em seu sítio, ainda não trocou a calça de moletom. Na sala da mãe, na cidade sul-mineira de São Vicente de Minas, espremem-se três poltronas, uma televisão, numerosas fotos da família, desenhos emoldurados de Jesus e Nossa Senhora e o sofá de vinil preto onde agora ele, o professor Carvalho, chefe de departamento em vias de se aposentar na Faculdade de Economia da Universidade Federal de Minas Gerais e um dos mais renomados demógrafos brasileiros dos últimos 50 anos, descansa. Ele põe os pés para cima e sorri. É claro que sabe o total de netos da mãe: 26. Passou boa parte de sua vida pesquisando, catalogando e registrando o notável fenômeno demográfico do país que se replica em miniatura em sua própria gente - em duas gerações a taxa de fecundidade despencou para 2,36 filhos por família,