trabalho infantil
Entrevista
"Chega de promessas"
Para indiano, o trabalho infantil está intimamente ligado à falta de ensino básico
Carmen Guerreiro A questão do ovo e da galinha ganhou nova interpretação aos olhos de Kailash Satyarthi, 52 anos, indicado ao Prêmio Nobel da Paz 2006 e líder da Marcha Global contra o Trabalho Infantil. Para ele, a exploração de crianças não é apenas conseqüência, mas também a causa da pobreza - que, por sua vez, reproduz o trabalho infantil. Nascido em Vidisha, na região central da Índia, Satyarthi trocou a carreira de engenheiro em 1980 para dedicar-se ao resgate de crianças mantidas sob regime de escravidão e trabalhos forçados.
Em seu discurso durante o Seminário Internacional de Educação, Pobreza e Desenvolvimento, realizado entre 22 e 24 de agosto, em Brasília, pela ONG Missão Criança, o ativista alertou para a existência de um "déficit social e moral" que mantém a sociedade distante do efetivo combate ao trabalho infantil. Responsável pela libertação de mais de 60 mil crianças exploradas, o indiano estruturou três centros de reabilitação e educação para as vítimas. Além disso, propõe o boicote dos artigos produzidos por menores. Em conversa com a repórter Carmen Guerreiro, Satyarthi enfatiza a necessidade de implementar políticas públicas específicas contra o trabalho infantil e oferece seu testemunho como ativista.
O senhor defende a criação de leis internacionais contra o trabalho infantil. Isso seria suficiente para resolver o problema?
Depende. Se o governo é genuíno, sim. Definitivamente há uma pressão e obrigação moral sobre os governos para que eles se submetam a leis internacionais. Não é fácil continuar ignorando o trabalho infantil. Mas devo dizer que nem as leis nacionais ou internacionais são o único remédio. São importantes, porque dão apoio moral àqueles que estão no meio da luta, mas não se pode depender apenas disso. Deve haver outras medidas.
Quais seriam essas medidas?
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