Trabalho Imcs
Pelo que entendi, o autor submete a uma crítica sistemática as correntes dominantes da reflexão epistemológica sobre a ciência moderna, recorrendo a uma dupla hermenêutica: a da suspeição e da recuperação.
Segundo Boaventura, a reflexão sobre a ciência que se faz deve se pautar pela reflexão hermenêutica, pois ela visa transformar o distante em próximo, o estranho em familiar, orientada pelo desejo de diálogo. Ele enfatiza que o distanciamento do discurso científico em relação ao senso comum e ao discurso estético e religioso estão inscritos na matriz da ciência moderna, provenientes das construções filosóficas de Bacon, Locke, Hobbes e Descartes, e não tem cessado de se aprofundar no processo de desenvolvimento das ciências.
Seguindo uma referência de Bachelard, do livro O Novo Espírito Científico, em que ele diz que a teoria do objeto deve ser construída contra o objeto, Boaventura afirma que a ciência deve ser aplicada contra a própria ciência para que diga o que sabe de si e do que ignora à seu respeito. A reflexão do autor tem como eixo as ciências sociais no olhar sobre as outras ciências e a sociedade. A reflexão hermenêutica possui um duplo cabimento: tornar compreensível o que as ciências são na sociedade e o que elas dizem sobre a sociedade, ou seja, “compreender o nosso estar no mundo técnico-científico contemporâneo.”.
Por fim, o autor aduz que a reflexão hermenêutica visa romper a relação circular viciosa: objeto-sujeito-objeto e ganhar diálogo com a relação eu/nós/tu/vós ao invés de eu/nós/eles/coisas, para, por conseguinte, compreender a prática científica para além da consciência ingênua ou oficial dos cientistas, com vista a aproximar o diálogo dessa prática com as demais práticas de conhecimento de que se tecem a sociedade e o