Trabalho De Filosofia
Cálice é uma canção escrita e originalmente interpretada pelos cantores brasileiros Chico Buarque e Gilberto Gil em 1973.
Na canção percebe-se um elaborado jogo de palavras para despistar a censura militar. A palavra título, por exemplo, é cantado pelo coral que acompanha o cantor de forma a soar como um raivoso "cale-se!". A canção teve sua execução proibida durante anos no Brasil. Só foi lançada em disco em novembro de 1978 no álbum Chico Buarque, tendo Milton Nascimento nos versos de Gil, e também em dezembro no álbum Álibi de Maria Bethânia.
INTERPRETAÇÃO DA LETRA:
(PAI, AFASTA DE MIM ESSE CÁLICE)
Sintetiza uma súplica por algo que se deseja ver à distância. Boa parte da música faz uma analogia entre a paixão de Cristo e o sofrimento vivido pela população aterrorizada com o regime autoritário. O refrão faz uma alusão à agonia de Jesus no calvário, mas a ambiguidade da palavra "cálice" em relação ao imperativo "cale-se", remete à situação da censura.
(DE VINHO TINTO DE SANGUE)
O "cálice" é um objeto que contém algo em seu interior. Na bíblia esse conteúdo é o sangue de Cristo, na música é o sangue derramado pelas vítimas da repressão e torturas.
(COMO BEBER DESSA BEBIDA AMARGA)
A metáfora do verso remete à dificuldade de aceitar um quadro social em que as pessoas eram subjugadas de forma desumana.
(TRAGAR A DOR, ENGOLIR A LABUTA)
Significa a imposição de ter que aguentar a dor e aceitá-la como algo banal e corriqueiro. "Engolir a labuta" significa ter que aceitar uma condição de trabalho subumana de forma natural e passiva.
(MESMO CALADA A BOCA, RESTA O PEITO)
Os poetas afirmam que mesmo a pessoa tendo a sua liberdade de pronunciar-se cerceada, ainda lhe resta o seu desejo, escondido e invisível dentro do seu peito.
(SILÊNCIO NA CIDADE NÃO SE ESCUTA)
O silêncio está metaforicamente relacionado à censura, que, desta forma, é entendida como uma quimera, um absurdo inexistente, porque, na medida em que o silêncio não se escuta, o silêncio