Trabalhadores no Brasil
SUJEITOS NO IMAGINÁRIO ACADÊMICO: ESCRAVOS E
TRABALHADORES NA HISTORIOGRAFIA BRASILEIRA
DESDE OS ANOS 1980
RESUMO
Este artigo analisa a historiografia produzida desde a década de
1980 sobre a história dos trabalhadores no Brasil. O problema central está na análise da mudança de paradigmas de interpretação sobre o lugar dos escravos e dos assim chamados trabalhadores livres nos estudos acadêmicos. Do “paradigma da ausência”, que identificava na experiência dos historiadores brasileiros uma história lacunar e em descompasso com outros modelos nacionais, pesquisas nas últimas três décadas passaram a configurar um
“paradigma da agência”, segundo o qual as ações de escravos, libertos e trabalhadores urbanos resultam de negociações, escolhas e decisões frente às instituições e aos poderes normativos.
PALAVRAS-CHAVE
Escravos. Trabalhadores. Historiografia. Brasil, séculos XIX e XX.
Sidney Chalhoub e
Fernando Teixeira da Silva1
SUJEITOS NO IMAGINÁRIO
ACADÊMICO: ESCRAVOS E
TRABALHADORES
NA
HISTORIOGRAFIA BRASILEIRA
DESDE OS ANOS 19802
A
o se adensar e enriquecer, nas últimas três décadas, a produção acadêmica sobre a história dos trabalhadores no Brasil tem provocado a revisão de algumas interpretações clássicas e sugerido novos caminhos de investigação. Grosso modo, pode-se dizer que tal esforço intelectual e político abalou o que chamaremos aqui de “paradigma da ausência”. Ademais, ameaça derrubar o muro de Berlim historiográfico, decorrente do paradigma mencionado, que ainda emperra o diálogo necessário entre os historiadores da escravidão e os estudiosos das práticas políticas e culturais dos trabalhadores urbanos pobres e do movimento operário. “O Brasil é um país sem povo.” A famosa assertiva de Louis
Couty3 , feita na década de 1880, já foi lida por muitos estudiosos como constatação de um fato ou mesmo