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O invencível rei da Inglaterra, Henrique, oitavo do nome, príncipe de um gênio raro e superior, teve, não faz muito tempo, uma querela de certa importância com o sereníssimo Carlos, príncipe de Castela.
Eu fui, então, enviado às Flandres, como parlamentar, com a missão de tratar e resolver essa questão.
Tinha por companheiro e colega, o incomparável Cuthbert Tunstall, a quem o rei confiara a chancela do arcebispado de Cantuária, com os aplausos de todos. Nada direi, aqui, em seu louvor. Não por temer que se acuse a minha amizade de adulação; porém, a sua doutrina e as suas virtudes estão acima dos meus elogios, e sua reputação é tão brilhante que celebrar o seu mérito seria, como diz o provérbio, chover no molhado.
Encontramos em Bruges, lugar fixado para a conferência, os delegados do príncipe Carlos, todos personagens distintíssimos. O governador de Bruges era o chefe e o cabeça dessa deputação, e Jorge de
Tomásia, preboste de Mont-Cassel, era a boca e o coração. Este homem, que deve sua eloqüência, menos ainda à arte que à natureza, passava por um dos mais sábios jurisconsultos em questões de Estado; e sua capacidade pessoal; aliada a longa prática dos negócios, fazia dele um habilíssimo diplomata.
A conferência já realizara duas sessões e não pudera ainda concordar sobre muitos artigos. Os enviados de Espanha despediram-se, então de nós, para ir a Bruxelas consultar o príncipe. Aproveitei esse lazer e rendí-me a Antuérpia.
Durante a minha estada nesta cidade conheci muita gente; mas nenhuma relação me foi mais agradável que a de Pedro Gil, antuerpiense de uma grande integridade. Este moço, que desfruta de honrosa posição entre os seus concidadãos, merece, realmente, uma das mais elevadas, já pelos seus conhecimentos, já por sua moralidade, pois, a erudição que possui iguala à qualidade do caráter. Sua alma está aberta a todos; mas nutre por seus amigos tanta benevolência, amor, fidelidade e devotamento que poder-se-ia