Thomas hobbes
Para sobreviver, população recorre a saques e disputa por comida.
Especialistas explicam a situação pela ótica de Thomas Hobbes.
Brigas nas filas de distribuição de alimentos por entidades humanitárias, canos de abastecimento da cidade cortados para ter acesso à água e saques a supermercados em ruínas são cenas comuns nos últimos dias em Porto Príncipe, capital do Haiti, devastada por dois terremotos. A situação do país e a reação de seus habitantes, que, na luta pela sobrevivência, acabam ferindo princípios morais e éticos, compõem o que o pensador inglês Thomas Hobbes (1588-1679) chamou de “estado de natureza”. Veja a cobertura completa sobre o terremoto no Haiti
“O estado de natureza é a ausência total de regras. É quase uma anomia, quando não existe o estado. As pessoas acabam agindo dessa maneira, racionalmente, como uma maneira de se autopreservar”, explica Rogério Arantes, professor de ciências políticas da USP. “O país acaba mergulhado num clima de insegurança, por causa do medo das outras pessoas. Numa situação como essa, as atitudes ficam imprevisíveis.” Segundo ele, o “estado de natureza” puro, com a completa inexistência de ordem, nunca existiu. “É uma ideia hipotética, mas há duas situações reais em que um país se aproxima dele: 1) guerra civil, em que não existe um organismo no país que monopolize a força física para conseguir valer as leis; e 2) no caso de guerra entre os estados no plano internacional, a chamada ‘guerra de todos contra todos’, em que os estados agem na lógica da autopreservação.” Reconstrução do país
O cientista político Cláudio Gonçalves Couto, professor da PUC-SP e da FGV, é da mesma opinião. Ele explica que, antes do terremoto, já havia a atuação de forças internacionais de paz no país para criar condições para a reconstrução do Haiti, após anos de guerra civil. “No entanto, com o terremoto, desorganização tão profunda das