Textos em cena
Nayara Marfim Gilaberte Bezerra2
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro
1. Introdução
A curiosidade que deu origem ao presente trabalho nasceu de uma antiga proposta de analisar a produção diarística contemporânea, por meio de uma investigação acerca da proliferação dos discursos em primeira pessoa como tendência cultural da atualidade, e de suas relações com o uso das novas tecnologias digitais, eletrônicas e interativas. Ao debruçarmo-nos em vastos conteúdos disponíveis na web, deparamo-nos, entretanto, com uma grande quantidade de blogs e perfis em redes sociais de escritores contemporâneos, que utilizam a internet como meio para o compartilhamento de seus relatos pessoais. Estávamos, pois, diante de um amplo material a ser trabalho que conduzia nossa investigação para uma curiosa questão: o que leva, na atualidade, escritores com livros publicados a se aventurarem em diferentes possibilidades narrativas e autobiográficas na rede mundial de computadores?
Buscando responder esta pergunta, investigamos, inicialmente, o percurso histórico que nos conduz, na atualidade, a desconfiar da assinatura autoral como conceito natural no campo das artes. Partindo da hipótese de que a autoria pode ser entendida como uma performance midiático-literária, analisamos alguns espaços digitais de enunciação, aqui compreendidos como novos cenários da escrita. Apoiados na ideia de que os meios interferem diretamente nos conteúdos que neles (e a partir deles) são construídos, nos dedicamos, por fim, ao estudo de duas obras do escritor brasileiro João Paulo Cuenca, e de suas experimentações de ampliação do espaço literário. Sobre o autor, nos interessou, mais, pesquisar a relação existente entre as estratégias por ele adotadas e o lugar de destaque que Cuenca ocupa no disputado circuito artístico-literário contemporâneo.
Da curiosidade que nos levou à redação do presente trabalho, resta uma infinidade de