Textos com ambiguidade
Não é fácil corresponder aos padrões atuais da sociedade. Hoje percebo isso, mas muito melhor, eu consegui aprender a contorná-los.
Quando era bem criança, os meus pais raramente passavam muito tempo em casa e como tal, fui criado por uma ama velha e gorda. (Desculpem os atributos!). Sim, daquelas mal-dispostas, cujo passatempo é trancar criancinhas no quarto, ao mesmo tempo que se empanturram com coxas de frango gordurosas, enquanto vêem novelas mexicanas. Ok, tirando este desabafo, sempre vivi e cresci sem modelos sociais humanos.
O que fazia naquele quarto trancado? Além das necessidades básicas (sim, porque o quarto não tinha lavabos), entretinha-me… pois bem, a fazer absolutamente nada. Como podem imaginar, esta proeza fantástica produzia nenhum desenvolvimento físico, psicológico ou emocional, na minha pessoa. Mas como as necessidades emocionais são inatas (dizem ‘eles’), começou a surgir a necessidade de socializar e, acima de tudo, amar alguém.
Seguindo este argumento (nada)lógico, foi aí por volta dos meus 5 anos (fosse o que isso fosse em termos reais) que me apaixonei. Não pensem desde já que se tratava de uma paixoneta infantil. Não! Era mesmo um amor sólido. Portanto, continuando, foi com 5 anos que me apaixonei por um vaso de flores, porque nunca conheci uma criança. Até podia ‘hiperbolizar’ os seus atributos de vaso e dizer que no seu interior vivia uma bela orquídea cor-de-rosa, mas não. Era simplesmente um vaso, daqueles de barro, grandes e pesados. Faltava-lhe um pedaço, fruto de um confronto físico com o absoluto e temível… chão! Talvez tenha sido esse sinal de fragilidade que me fez apaixonar-me por ele. Sei que muitos rir-se-ão, mas eu sei que o nosso amor era puro.
Hoje, casado e sem filhos, admito que ninguém me podia amar tanto como este vaso.
O Príncipe e a Perereca
Era uma vez um príncipe-sapo que, após entrar desavisado na casa de uma bruxa, foi por ela amaldiçoado e transformado em um homem.