Textos chatos
Como se manifesta essa estrutura concretamente na nossa vida?
Antes de mais nada, pelo quotidiano. Cada qual vive o seu quotidiano que começa com a higiene pessoal, a forma como vive, o que come, o trabalho, as relações familiares, os amigos, o amor. O quotidiano é rotineiro, convencional e, não raro, carregado de desencanto. A maioria da humanidade vive restrita ao quotidiano com o anonimato que ele envolve. Alguns são conhecidos pela primeira vez quando morrem, pois o anúncio aparece no jornal. E o lado da ordem universal que emerge na vida das pessoas.
Mas os seres humanos são também habitados pela imaginação. Ela rompe as barreiras do quotidiano e permite dar saltos. A imaginação é, por essência, fecunda; é o reino das probabilidades e possibilidades, de si infinitas. Imaginamos nova vida, nova casa, novo trabalho, novos relacionamentos. A imaginação produz a crise existencial e o caos na ordem quotidiana.
É da sabedoria de cada um articular o quotidiano com o imaginário e retrabalhar a crise. Se alguém se entrega só ao imaginário, pode dar por si a fazer uma viagem, a voar pelas nuvens esquecido da Terra e acabar numa clínica psiquiátrica. Pode também negar a força sedutora do imaginário, sacralizar o quotidiano e sepultar-se, vivo, dentro dele. Então mostra-se pesado, desinteressante e frustrado. Rompe com a lógica do movimento universal.
Quando alguém, entretanto, sabe abrir-se ao dinamismo do imaginário e às oportunidades presentes na crise e ao mesmo tempo mantém os pés no chão, quando assume o seu quotidiano e o vivifica com injecções de novidade e de criação, então começa a irradiar uma rara energia interior. Dele sai força de expressão. Emerge a singularidade pessoal. Há luz e brilho na vida, originalidade no que propõe e criatividade nas suas