Texto Por Que O Brasil Exporta Plasma E Importa Hemoderivados
06 de setembro de 2012
por Ana Maria Costa, do Blog do Cebes
Ana Maria Costa é médica e presidenta do Centro Brasileiro de Estudos em Saúde (Cebes).
O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios acolheu recentemente tese que lhe foi apresentada sobre a persistência do desperdício do plasma no Brasil, abrindo caminho para que o tema seja usado para alimentar um debate com claros interesses políticos e econômicos. Nessa semana, a revista Isto é estampou uma matéria sobre o assunto, indicando a responsabilidade sobre o descarte de plasma aos ministros Humberto Costa, Saraiva Felipe, José Agenor, José Temporão e Alexandre Padilha.
Mas a verdadeira história das políticas do sangue no Brasil é que, durante 30 anos, mais precisamente desde a estruturação da Rede Pública de Hemocentros, ocorrida nos anos oitenta, nenhum governo assumiu o destino ao plasma humano excedente do uso terapêutico, que até 2002 era jogado sumariamente no lixo.
Em um cálculo aproximado, mais de 20 milhões de bolsas de plasma, por mais de 30 anos, foram descartadas sem que as autoridades dessem destino a este material biológico, rico em proteínas essenciais, conhecidas como hemoderivados. Isto sim, um desperdício.
Para entender o assunto, é importante saber que o sangue que é doado nos hemocentros por multidões de pessoas em todo o território nacional é imediatamente processado para separar os hemocomponentes, que são os produtos usados na rede hospitalar.
Importante que se esclareça que toda bolsa de sangue total coletada do doador resulta, no mínimo, em duas bolsas. Uma contendo o concentrado de hemácias que é transfundido nos pacientes, com elevada taxa de aproveitamento, e outra contendo plasma. Os novos produtos sintéticos colocados no mercado nas últimas décadas têm ocasionado a redução do uso terapêutico do plasma.
Anualmente, por razões técnicas, um volume da ordem de 150.000 litros de plasma é classificado