Texto 1 Pescadores E Anzois
PESCADORES E ANZÓIS
“Métodos contêm sempre uma metafísica; inconseqüentemente, eles revelam conclusões que, freqüentemente, afirmam ainda não conhecer.”
A. Camus
A.1 Não tenho dúvidas. Quando os cientistas compreenderem que eles pertencem ao mesmo clube que os caçadores, pescadores e detetives, descobrirão que o seu trabalho é muito mais excitante do que pode parecer. Além disto, poderão ganhar uma dose extra de sabedoria, paciência e humildade, caçando, pescando, quando não lendo aventuras de
Sherlock Holmes.
“Teorias são redes; somente aqueles que as lançam pescarão alguma coisa.”
Não é por acidente que Karl Popper escolheu esta frase de Novalís como epígrafe do seu livro A Lógica da Investigação Científica. O uso de analogias não é gratuito. E, se a analogia para a teoria é um instrumento de pescaria, podemos muito bem visualizar o cientista como um pescador lançando redes e recolhendo os mais inesperados espécimes, neste mar infinito da realidade ...
A.2 É evidente que nem as redes dos pescadores, nem as redes dos cientistas, caem dos céus. Elas têm de ser construídas.
O pescador faz suas redes com fios.
O cientista faz suas redes com palavras.
Estas redes construídas com palavras têm o nome de teorias.
A.3 Um cientista que consegue rachar o código de uma mensagem cifrada conseguiu, na verdade, uma rede para segurar os peixes que lhe interessam.
Uma rede para decifrar a linguagem do pê é uma rede que deixa a sílaba pé passar, porque ela é o elemento perturbador, para segurar só o que interessa.
Galileu, ao propor a matemática como a linguagem a ser usada para traduzir a natureza, na realidade construiu uma rede cujas malhas deixam passar cheiros, sons, cores, sensações táteis – por razões óbvias: estes não eram os peixes que Galileu queria. No seu aquário só podiam sobreviver relações matemáticas.
Por isto, sua rede só segurava objetos