TEXTIO
Autopoiesis foi a palavra que os biólogos chilenos Humberto Maturana e Francisco Varela cunharam para explicar a vida. Poiesis é o ato criativo (mesma raiz de “poesia”); a vida é auto-poiética, ela cria, ela inventa e reinventa a si própria – a partir de si própria.
Mas desde Darwin já não se sabe que a vida se adapta às alterações no meio ambiente, alterações externas a ela? Como poderia então ser o referencial para a renovação da vida algo exclusivamente interno?
Maturana e Varela sabiam que a realidade externa muda; que os seres vivos de alguma forma “tomam conhecimento” dessas mudanças; e que esse processo os leva a mudar também. Eles debruçaram-se então sobre o processo da cognição, sobre o que seria esse “tomar conhecimento”.
E concluíram que qualquer conhecimento a respeito da realidade externa é uma criação interna. Ou seja, para o “conhecedor”, a realidade em si não existe, só existe a sua realidade, internamente criada. Isso renega a visão tradicional, pela qual os nossos cinco sentidos são canais que provêem acesso direto à realidade, e o “conhecimento” seria uma representação, uma imagem da realidade, a mais fiel possível.
O que Maturana e Varela comprovaram foi que os seres vivos não são agregados de partes, são padrões de interrelacionamentos entre essas partes, padrões dinamicamente renováveis. E que a realidade não “entra” em nós, de fora para dentro, pela visão e demais sentidos; ela pode no máximo estimular uma reorganização desse padrão de