INTRODUÇÃO: UM PAPEL PARA A HISTÓRIA Se a História fosse vista como um repositório para algo mais do que anedotas ou cronologias, poderia produzir uma transformação decisiva na imagem de ciência que atualmente nos domina. Mesmo os pró- íprios cientistas têm haurido essa imagem principalmente no estudo das realizações científicas acabadas, tal como estão registradas nos clássicos e, mais recentemente, nos manuais que cada nova geração utiliza para aprender seu ofício. Contudo, o objetivo de tais livros é inevitavelmente persuasivo e pedagógico; um conceito de ciência deles haurido terá tantas probabilidades de assemelhar-se ao empreendimento que os produziu como a imagem de uma cultura nacional obti- 19 da através de um folheto turístico ou um manual de línguas. Este ensaio tenta mostrar que esses livros nos têm enganado em aspectos fundamentais. Seu objetivo é esboçar um conceito de ciência bastante diverso que pode emergir dos registros históricos da própria atividade de pesquisa. Contudo, mesmo se partirmos da História, esse novo conceito não surgirá se continuarmos a procurar e perscrutar os dados históricos sobretudo para responder a questões postas pelo estereótipo a-histórico extraí do dos textos científicos. Por exemplo, esses textos freqüentemente parecem implicar que o conteúdo da ciência é exemplificado de maneira ímpar pelas observa ções, leis e teorias descritas em suas páginas. Com quase igual regularidade, os mesmos livros têm sido inter- ■ pretados como se afirmassem que os métodos cientí ficos são simplesmente aqueles ilustrados pelas técni- . cas de manipulação empregadas na coleta de dados de ; manuais, juntamente com as operações lógicas utilii zadas ao relacionar esses dados às generalizações teó- \ricas desses manuais. O resultado tem sido um conceito de ciência com implicações profundas no que diz respeito à sua natureza e desenvolvimento. Se a ciência é a reunião de fatos, teorias e métodos reunidos nos textos atuais, então os cientistas