Testes
Serge Gruzinski
Freqüentemente, o papel crucial que a imagem desempenhou na conquista da América e, em particular, do México, é negligenciado. Sem incorrer em anacronismos e falar em “guerra de imagens", há que se reconhecer que o Ocidente utilizou nesse período, a maioria dos recursos visuais de que se dispunha no século XVI, com o intuito de apoiar seu projeto de dominação. Ninguém ignora que o descobrimento da América não apenas foi contemporâneo ao descobrimento da imprensa, como também à difusão massiva — para essa época — do livro ilustrado e gravado. A partir da segunda metade do século XV não haviam, afinal, a ilustração e a gravura iniciado por toda parte a difusão da imagem que a Europa tinha do mundo? Uma imagem, enfim, multiplicada, mais acessível e legível que a mensagem do texto impresso?
Também não há casualismo no fato de a Igreja haver abordado as grandes civilizações ameríndias, ao mesmo tempo desconhecidas, sofisticadas e desconcertantes, sob o ângulo das imagens, tornando-as, de forma contundente, mundos de idólatras. Para a Igreja, essas sociedades não eram nem judaicas nem muçulmanas, praticavam uma religião "falsa", a idolatria, centrada no culto às representações “falsas”, atraves da veneração à “imagens vãs e sem fundamento”, inspiradas, sem dúvida, pelo diabo. Portanto, a cristianização deveria localizar, detectar e destruir sistematicamente tais ídolos. Esse gigantesco proje-
* Originalmente publicado na revista mexicana Nexus, 1991. Traduzido por Maria José Pena y Calvo.
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A Guerra das Imagens / 199 to posto em prática numa escala que abrangia a todo um continente, esta caçada aos ídolos, e portanto, às imagens do Outro, condicionariam profundamente a atitude do Ocidente frente aos mundos que pretendia submeter. A adoração aos ídolos era considerada ao mesmo tempo uma aberração estética, posto que tais ídolos eram, segundo a ótica dos espanhóis, de uma feiúra repugnante —