Teatro e desterritorialização
O curso histórico das artes, notadamente a literatura, tem sido, sob muitos aspectos e com diversos exemplos, permeado pela influência direta de uma obra sobre outra, que a toma por modelo e a imita. O caráter mimético da atividade artística já nos remete à Antigüidade Clássica, bastando, para isto, conferir os apontamentos aristotélicos que asseguram ser a arte uma imitação da natureza. E não é tortuoso o caminho de procurar, nas principais obras da literatura clássica, a preponderância da imitação sobre a inventividade artística. Sem nos aprofundarmos muito nesta busca, citamos a tão conhecida influência da epopéia de Homero para as manifestações posteriores, bem como dos conceitos gregos de tragédia e comédia, esta notadamente recuperada por Plauto em Menandro.
A obra de Plauto é, simultaneamente, modelo e imitação. Percorre este duplo caminho artístico que revela o reconhecimento posterior de sua arte (modelo) e a valorização e utilização que o autor demonstrou por seus predecessores.
Ariano Suassuna, dramaturgo brasileiro, buscou no autor que, justamente por se ter imortalizado em comédias, contribuiu para o conhecimento da língua latina em sua variante vulgar a inspiração, sob a forma de enredo, personagens e estrutura, para a composição de O Santo e a Porca. Tendo como principal fundamentação teórica o conceito de desterritorialização de Gilles Deleuze, pretendemos firmar este trabalho na sólida base de estudos filosóficos do francês que, entre tantos nomes, ajudou-se a compreender a obra de Franz Kafka e de tantos outros autores “menores” provenientes dos guetos de judeus à época da Segunda Grande Guerra. Estreitando as relações deste profícuo estudo ao nosso plano de dissertação de Mestrado, enfocaremos a obra teatral de Ariano Suassuna, na contemporaneidade brasileira, em uma de suas expressões mais agraciadas pela fortuna crítica - O Santo e a Porca. Pretendemos, portanto, percorrer o incerto e tortuoso caminho de análise de uma