CENA OU QUADRO 1 (MUDANÇA DE ESPAÇO OU ESPAÇO-TEMPO 1): SALA DE JANTAR Segunda metade do século XIX, falar francês é gosto da época como hoje o inglês; Jorge, engenheiro de minas, bocejou preguiçosamente em sua velha grande e confortável poltrona de pele de bode (uma voltaire de marroquim: dolce far niente!), onde folheava um livro de Luís Figuier sobre as novas invenções e descobertas; sentado em couro de bode ele mesmo fora um bode a correr atrás da sua cabra-rapariguita Eufrásia a cabritarem juntos quando o homem dela, o Brasileiro, saía a jogar bóston ao clube, isso em seu tempo de estudante na Politécnica. Luísa, em roupão preto, a sua loirinha e branca esposa há três anos, que ama demais romances românticos e sonha com príncipes encantados, eternos e felizes amores, Ivanhoés de armaduras brilhantes, não obstante casada, profere animada, sotaque alegre italiano, uma notícia que está a ler sentada à mesa: - Amore, amore mio, meu primo Basílio está de volta!! Per amore del cielo, depois de tantos anos, de ir ao Brasil(i) e viajar pela Europa vem nos contar as novidades! - Bom, minha amada; pena só que estou obrigado a uma viagem Alentejo, pelos descampados de restelho e mosconas que só de ver tu te assusta. Vai ser uma maçada, obrigações, responsabilidades do ofício. - Não te importas que eu o receba, Jorge?! Sentirei muito prazer em rever esse meu priminho. Boas lembranças guardamos de nossa encantadora juventude romântica... - Lês muito romances românticos, minha prenda, estamos em outros tempos, tudo é ciência e realidade. Mas vá, receba teu parente, e cumprimente-o como se eu estivesse presente. Ela, como um passarinho alegre veio acariciá-lo à poltrona. Entra Juliana, a serviçal da casa, magra e esquisita, quarenta anos de feiosura estranha. Luísa a achava antipática, pediu que aprontasse as roupas de Jorge para a viagem. Mal a magra foi-se com seu jeito estranho, despejou: - Estou a tomar ódio a esta criatura, Jorge! Rindo, Jorge