Teatro performativo
Josette FÉRAL
Tradução: Lígia Borges
Revisão da tradução: Cícero Alberto de Andrade Oliveira
Meu objetivo hoje é apresentar os conceitos de performance e performatividade, amplamente utilizados nos Estados Unidos há duas décadas, e que gostaria de utilizar para redefinir o teatro que se faz hoje e carrega em seu cerne estas duas noções. Este teatro, que chamarei de teatro performativo, existe em todos os palcos, mas foi definido como teatro pós-dramático a partir do livro de Hans-Thies Lehmann, publicado em 2005, ou como teatro pós-moderno. Gostaria de lembrar aqui que seria mais justo chamar este teatro de 'performativo', pois a noção de performatividade está no centro de seu funcionamento.
Para realizar este objetivo, uma incursão em direção à noção de performance se impõe, performance concebida aqui como forma artística (a performance art) e a performance concebida como ferramenta teórica de conceituação do fenômeno teatral, conceito popularizado por Richard Schechner, particularmente nos Estados Unidos, e que constitui a base principal sobre a qual se estruturam os “Estudos da Performance” nos países anglo-saxões.
Minha abordagem será feita em três momentos: por um lado, tentarei delimitar as noções em vigor, traçando um mapa dos principais sentidos que lhe são atribuídos; em seguida, tentarei estabelecer algumas das características da performatividade e, enfim, por meio de exemplos e excertos de peças, tentarei mostrar como alguns dos espetáculos evocados são propriamente performativos.
Por uma poética da performatividade: o teatro performativo
“A performance poderia ser hoje um ponto nevrálgico do contemporâneo”1
Existe, desde sempre, entre a performance e o teatro, uma desconfiança recíproca que não parou de se desenvolver ao longo dos anos, uma desconfiança que Michael Fried resume nestas palavras lapidares, freqüentemente evocadas: “A arte degenera à medida em que se aproxima do