Teatro para duas pessoas
CARMEN LUCIA ( Se esquivando)- Não tenho dinheiro! Nem adianta.
JONAS-Eu queria falar com você.
CARMEN LUCIA-Não tenho dinheiro, já disse! E por favor não se chegue muito perto que o senhor deve ter piolhos.
JONAS-Não me está a reconhecer ?
CARMEN LUCIA-Eu não conheço mendigos! Dê-me licença, por favor.
JONAS-Sou eu...
CARMEN LUCIA ( Procurando uma coisa na bolsa. Tira uma bala de hortelã )-Eu dou-lhe este rebuçado de hortelã e o senhor deixa-me em paz. É bom...refresca e tira o sabor/ hálito de cachaça da boca...
JONAS-Sou eu Carmen.
CARMEN LUCIA ( Espantada )-Como é que você sabe o meu nome?
JONAS-Lembra-se do Jonas, o seu ex-marido?
CARMEN LUCIA-Claro que eu lembro daquele triste.
JONAS-Pois é...sou eu. O Jonas... Pelo menos o que sobrou de mim... E acredite...Não sobrou muita coisa... ( Ele tira o chapéu para ela vê-lo melhor )
CARMEN LUCIA-Isto é alguma brincadeira? Você não pode ser o Jonas. É parecido... mas não pode ser ele. O Jonas sabia descer baixo, mas não tanto!
JONAS-Pelos vistos você esqueceu rápido os bons momentos que tivemos. Dei-te a coleção inteira do Roberto Carlos e ainda fiz pior...disse que também gostava... Durante anos, no nosso aniversário de casamento tive que ouvir: “ Café da manhã”. Era como enfiar um prego no ouvido...
CARMEN LUCIA-Não acredito! És mesmo tu !
JONAS-Não sei o porque do espanto. Tu sempre sonhou em me ver na miséria. Agora que me vês assim não me reconheces ?
CARMEN LUCIA-Aí meu Deus! És tu mesmo... Mas como é que viras-te mendigo ?
JONAS-É fácil! Se vai empobrecendo, empobrecendo, empobrecendo...e numa bela manhã, embaixo de algum viaduto, tu acordas mendiga .
CARMEN LUCIA ( Chocada )- Estou pasmada! És tu mesmo?
JONAS-Sou eu Carmen. Estou no fundo do poço.
CARMEN LUCIA-Estou a ver... ( vai apontando “seus dados” )
JONAS-Eu