Teatro brasileiro (anos 70-90)
Nos anos 70, começam a surgir grupos teatrais que encontram, através de projetos coletivos, uma nova forma de posicionar-se na cultura, na sociedade, na política e na arte. Essas equipes se formam principalmente no Rio de Janeiro e em São Paulo, e surgem como uma forma de resistência à ditadura. Produzia-se uma farta literatura dramática que tratava metaforicamente da questão política. A apropriação conjunta dos meios de produção do teatro, com a divisão democrática das funções artísticas, a ausência de hierarquias entre os criadores, recuperam, para os jovens artistas independentes, a possibilidade, inusitada na época, de falar em nome próprio, de escolher projetos, de criar textos cênicos de autoria comum, de misturar épico, lírico e dramático sem saber que narrar o caso de família, recitar a poesia do amigo ou brigar na cena de namoro era fazer teatro contemporâneo. No entanto – e talvez seja esse um dos fatores decisivos da inovação que criaram –, o que fazia a diferença era a posse dos meios de produção do teatro, que sustentava o trabalho coletivo e a luta pela manutenção do grupo, além de garantir a expressão de todos, sem a obrigação de pesquisar linguagem ou de seguir cartilha ideológica. Ainda que mal-acabados, feitos da reciclagem de materiais, da luz caseira e precária, eram trabalhos artesanais que justapunham muitas vozes nos cenários grafitados, nos figurinos de rua, nos trechos de diários, nas interpretações naturais sem traço de naturalismo, nas trilhas roqueiras, quase dramaturgias sonoras de contestação à família e à propriedade teatral. Mas seu traço mais marcante era a intensidade expressiva, uma energia criativa que mobilizava e criava tribos solidárias para dar uma resposta original ao cala-a-boca recebido das produções empresariais caras e dos prepostos da ditadura militar. É exatamente no período em que o país atravessa a repressão ditatorial, com o desmantelamento das universidades, dos movimentos