Teatro anos 70
Foi bem diferente do que havia acontecido após 1964. A ascensão da extrema direita ao poder parecia provisória, efêmera, um acidente de percurso a ser corrigido em breve pela marcha inexorável da história. Não houve, por isso, a transformação radical de corações e mentes que se iria verificar após 1968.
Aí sim. O AI-5 era o triunfo definitivo da repressão. Agora, não se sabia mais quanto tempo a ditadura ia durar. Aparentemente podia ser para sempre.
O plano da cultura, naqueles anos, se caracterizou pela presença absoluta da censura. Tudo era censurado – jornais, livros, filmes, mas principalmente peças de teatro. O crítico José Arrabal declara, em seu ensaio sabre o teatro brasileiro nos anos 70: “Nunca, em toda a história de nossa formação social, foram proibidos tantos textos dramáticos e tantos espetáculos de teatro”.
Pois é: a principal mania dos censores da época era censurar teatro. O número de peças que, no Brasil, foram cortadas, mutiladas e simplesmente proibidas parece incalculável.
Já em 1968, eu próprio tivera uma experiência desagradável. Dirigi o primeiro espetáculo da peça Barrela, de Plínio Marcos, no Teatro Jovem do Rio de Janeiro, com produção de Ginaldo de Souza e um elenco que tinha, entre outros, Milton Gonçalves e Joel Barcelos. Enquanto ensaiávamos, enviamos o texto para a censura federal, em Brasília. Os dias passavam e não tínhamos resposta. Contávamos que haveria muitos cortes porque o tema – marginais presos numa cela – ensejava uma abundância de palavrões no diálogo. A resposta chegou no dia da estréia: não havia cortes