Tau Zero
Poul Anderson
Título original: Tau Zero
Tradução: Mário Molina
Capítulo 1
OLHE... ALI... subindo pela Mão de Deus. Não é?
— Sim, acho que sim. Nossa nave.
Foram os últimos a ir embora quando Millesgarden fechou. Perambularam a maior parte daquela tarde entre as esculturas, ele espantado e fascinado pela experiência do primeiro contato com elas, ela dando um adeus sem palavras ao que ocupara em sua vida uma parte maior do que até então imaginara. Tinham sorte com o tempo, o verão se aproximava do fim. Esse dia na Terra fora luminoso, brisas que faziam as sombras da folhagem dançarem nos muros da vila, um límpido som de fontes.
Mas quando o sol caiu, o jardim pareceu tornar-se abruptamente ainda mais vivo. Era como se os delfins estivessem dando cambalhotas por entre suas águas, Pégaso esbravejando para o céu, Folke Filby ter xeretando atrás do neto extraviado enquanto seu cavalo tropeçava no vau, Orfeu ouvindo, as jovens irmãs abraçando-se em sua ressurreição — tudo sem ruído, porque foi percebido num instante singular, embora o tempo em que aquelas formas realmente se moveram não tenha sido menos real que o tempo que transportava homens.
— Como se eles estivessem vivos, prontos a partir com destino às estrelas e nós devêssemos ficar e envelhecer — murmurou Ingrid Lindgren.
Charles Rey mont não a ouviu. Achava-se no lajedo, sob uma bétula, cujas folhas farfalhavam e muito timidamente haviam começado a mudar de cor.
Rey mont olhava para a Leonora Christine. No alto de seu pilar, a Mão de Deus sustentava o Gênio do Homem, erguido em silhueta contra uma penumbra azulesverdeada. Atrás, a minúscula e rápida estrela atravessou de um lado para outro e mergulhou outra vez.
— Tem certeza que não era um satélite comum? — Lindgren perguntou por entre o silêncio. — Nunca esperei que fôssemos ver...
Rey mont ergueu-lhe uma sobrancelha.
— Você é a primeira oficial e não sabe onde está nem o que está fazendo sua própria nave?
O