surrealismo e neorrealismo
Desde o último dia 7 de abril, Ruanda tem sido palco de uma série de eventos para recordar o genocídio que há exatos 20 anos deixou entre 800 mil e 1 milhão de mortos no país. O presidente Paul Kagame, o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-moon, representantes estrangeiros e sobreviventes do massacre se uniram em torno de uma mensagem de paz e esperança pelo futuro dessa pequena nação africana. Mas para um dos personagens mais emblemáticos de um dos mais cruéis derramamentos de sangue da história, há muito pouco o que comemorar. Em 1994, Paul Rusesabagina salvou cerca de 1,2 mil pessoas da morte ao refugiá-las no hotel de propriedade belga que ele gerenciava na capital do país, Kigali. Sua história foi parar no cinema por meio do filme Hotel Ruanda, no qual é interpretado por Don Cheadle, e serviu de inspiração para a criação da ONG Hotel Rwanda Rusesabagina Foundation, que busca combater o genocídio no mundo, incluindo em sua terra natal. Segundo o ativista, as vítimas de ontem, os tutsis, hoje promovem uma perseguição sistemática contra seus antigos carrascos, os hutus, que formam a maioria esmagadora da população local. "Em Ruanda, nós mudamos apenas os dançarinos, mas a música continua a mesma. A canção de antes era matar, e hoje permanece sendo essa. Durante o genocídio, eram hutus matando tutsis, agora é o contrário", diz Rusesabagina, que atualmente vive com sua família na Bélgica. O ódio étnico em Ruanda vinha sendo insuflado desde que os belgas assumiram o controle do então protetorado alemão durante a Primeira Guerra Mundial. Primeiro eles apoiaram a elite tutsi que comandava a região. Depois, na década de 1950, passaram a sustentar os oprimidos hutus, a quem ajudaram a tomar o controle do país e a implantar um sistema extremamente segregacionista contra seus rivais. Ao se retirar do território, em 1962, ano da independência ruandesa, a Bélgica deixou um caldeirão