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João de Barros
Capítulo I
Como el-rei dom Manuel, no segundo ano do seu reinado, mandou Vasco da Gama com quatro velas ao descobrimento da Índia.
Falecido el-rei dom João, sem legítimo filho que o sucedesse no reino, foi alevantado por rei (segundo ele deixará o seu testamento) o duque de Beja, dom Manuel, seu primo co-irmão, filho do infante dom Fernando, irmão de el-rei dom Afonso; a quem por legítima sucessão era devida esta real herança, da qual recebeu posse pelo cetro dela, que lhe foi entregue em Alcácer do Sal, a vinte e sete dias de Outubro do ano de nossa redenção de mil quatro centos e noventa e cinco; sendo em idade de vinte e seis anos, quatro meses e vinte e cinco dias (como mui particularmente escrevemos em outra nossa parte intitulada Europa, e ali em sua própria crónica).
E porque, com estes reinos e senhorios, também herdava o prosseguimento de tão alta empresa como seus antecessores tinham tomado, que era o descobrimento do oriente por esse nosso mar oceano, que tanta indústria, tanto trabalho, e despesa, por discurso de setenta e cinco anos tinha custado, quis logo, no primeiro ano de seu reinado, mostrar quanto desejo tinha de acrescentar á coroa deste reino novos títulos sobre o senhorio de Guiné, que, por razão deste descobrimento, el-rei dom Joam, seu primo, tomou, como posse da esperança de outros maiores estados que por esta via estavam por descobrir. Sobre o qual caso, no ano seguinte de noventa e seis, estando em Montemor-o-Novo, teve alguns gerais conselhos: em que houve muitos e diferentes votos, os mais foram que a Índia não se devia descobrir. Por que, além de trazer consigo muitas obrigações por ser estado mui remoto para poder conquistar e conservar, debilitaria tanto as forças do reino que ficaria ele sem as necessárias para sua conservação. Quando mais que sendo descoberta, podia cobrar este reino novos competidores, do qual caso já tinham experiência, no que se moveu entre el-rei dom Joam e el-rei dom