SONIFEROS
Alírio de Cerqueira Filho
Soníferos não são remédios para o sono. A expressão correta deveria ser "anestésicos". Eles nos narcotizam. Não existe básicamente uma terapia medicamentosa contra os distúrbios do sono, uma vez que os soporíferos simplesmente atuam sobre o estado de alerta, mas não sobre os distúrbios do sono. Os comprimidos para dormir têm mais sentido no tratamento de distúrbios de curta duração e de causas exógenas, onde estas estão bem claras e as demais terapias não seriam possíveis, o que raramente acontece. Também com relação a enfermidades realmente graves, a utilização de comprimidos para dormir pode ser indicada. Essa decisão, no entanto, fica reservada ao médico, e esses casos também são raros. Fora isso, o emprego de medicamentos não é cabível no tratamento de todos os distúrbios do sono que têm causas psíquicas.
A prática cotidiana é diferente: anualmente no Brasil são emitidos pelos clínicos gerais, como pelos especialistas, vários milhões de receitas apenas para soníferos. Acrescentem-se aí os remédios que são vendidos sem receita. Na maioria das vezes, os pacientes, mas também os médicos, partem do seguinte raciocínio: "Distúrbios do sono? Então vou tomar ou prescrever um remédio para dormir". Isso pode ter conseqüências fatais: o sono nos é "emprestado"; com isso sua duração total é aumentada, em detrimento, no entanto, da ocorrência da fase do sonho, importante para o efeito de descanso. Se os soníferos forem suspensos, quase sempre surgem perturbações do sono. A conseqüência mais comum: aumento da dosagem. Isso acontece quase automaticamente, pois com o tempo a maioria dos preparados vai perdendo o efeito e o corpo acaba se acostumando. Tem lugar um círculo vicioso que pode acabar por levar à dependência psicológica e até à necessidade física manifesta. Os comprimidos para dormir passam a fazer parte do "cerimonial" noturno e sem eles não se faz mais nada.
Vivemos numa época cronometrada, agitada e