Soneto
Apenas vi do dia a luz brilhante
Lá de Túbal no empório celebrado,
Em sanguíneo carácter foi marcado
Pelos Destinos meu primeiro instante.
Aos dois lustros a morte devorante
Me roubou, terna mãe, teu doce agrado;
Segui Marte depois, e enfim meu fado,
Dos irmãos e do pai me pôs distante.
Vagando a curva terra, o mar profundo,
Longe da Pátria, longe da ventura,
Minhas faces com lágrimas inundo.
E enquanto insana multidão procura
Essas quimeras, esses bens do mundo,
Suspiro pela paz da sepultura.
1. Estrutura interna bipartida:
1ª parte, constituída pelas quadras e pelo 1º terceto, na qual o sujeito poético nos dá conta do infortúnio com que o Destino o marcou à nascença, ao ponto de lhe ter roubado a mãe, quando ainda era criança, e de o ter afastado da Pátria e do resto da família (pai e irmãos);
2ª parte, constituída pelo último terceto, na qual o sujeito poético, utilizando uma comparação antitética que estabelece com a «insana multidão», confessa apenas suspirar pela paz da sepultura; Nota: talvez seja de reparar o facto de o sujeito poético não se ter coibido de utilizar o termo morte (devorante), quando referido à mãe (vv 5/6), o que evidencia o quanto, para si, foi dolorosa, ao passo que, no final, porque é uma aspiração sua, e já pacificada, utiliza um eufemismo.
2. Aspectos psicológicos: carácter sanguíneo (marcado pelos Destinos (vv 3/4)) carente de afectos (vv 5/8) desejoso da morte (v 14)
3. Elementos neoclássicos: a forma (soneto) o vocabulário alatinado ( empório, devorante, vagando, insana) a presença da mitologia (Túbal, Destinos, Marte)
4. Elementos românticos: o carácter autobiográfico o individualismo o tom confessional a crença no fatalismo de que vítima
5. Alguns recursos estilísticos: adjectivação (brilhante, celebrado, sanguíneo, devorante, terna, doce, distante, curva, profundo, insana); metonímia (vv 2, 7);hipérbato (vv 2/4, 11); apóstrofe (v 6); anáfora (v 10); anástrofe (vv